7.1.11

mudanças

Nesta sexta-feira fez sol, calor e por várias vezes caiu uma ducha de chuva, é curioso como chove na Bahia, eu como paulista sempre estranho a chuva que vem e para de repente e o céu se abre todo sorridente. É muito bom o clima de verão em Salvador porque como o mar praticamente circunda a cidade - se olhar o mapa vai ver que a cidade é um triângulo com o mar banhando 2 lados - então tem sempre vento e brisa vinda do mar, nunca chega a ficar abafado.
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Faz dias que estou às voltas em tentativas de organizar os meus arquivos no computador, são tantas imagens que me perco e não encontro o que quero, assim também com textos e outras coisas que a gente guarda e nem sabe onde vai parar. Para mim é um mistério esta máquina, mas não consigo mais viver sem ela. Organizando arquivos encontrei coisas que nem lembrava mais, é como a casa da gente, toda vez que arrumamos um armário encontramos tanto cacareco e tantas boas lembranças. Pois encontrei textos que havia publicado em outro blog e decidi postar aqui, já que início de ano é propício à reflexões e hora de dar jeito nos guardados, fiz uma mistura com eles e deu nisso.

MUDANÇAS

Passamos a vida acumulando, começamos de pequenos a juntar um monte de coisas, e mesmo fazendo faxinas, arrumações, tentando organizar objetos, a impressão é de que sempre tem muito mais, que vão crescendo sem a gente perceber. Até que chega um dia que nos vemos prisioneiros de nossas coisas, já não temos mais liberdade, pois tudo o acumulado depende de nós. A casa é tomada por objetos dos quais sequer lembramos, gavetas cheias, armários lotados, só nos damos conta do que está lá quando somos obrigados a remexer nos guardados. É engraçado como "nos apegamos" a uma fita, um pedaço de papel, uma caixinha. E quando temos que decidir se aquilo continua guardado ou vai ser dado um fim a dúvida é cruel, acaba ficando para a próxima vez.
Já juntei e já faxinei nem sei quantas vezes as minhas casas. E pensando nisso comecei a contar em quantas casas vivi.
Quando nasci meus pais moravam numa casinha da qual se mudaram quando eu tinha meses, foi aí que tudo começou! Comecei cedo e venho mudando de casas desde então.
Passei minha infância e adolescência num apartamento que ficava no térreo e tinha quintal e jardim, a rua era de terra, ficava perto do rio, lugar tranqüilo do interior.
Fiz universidade em São Paulo e me mudei para a casa da minha tia, ela era viúva, morava na Pompéia, a minha faculdade nas Perdizes, eram os anos 70.
Casei-me e nos primeiros meses moramos numa travessa da avenida Brigadeiro Luiz Antonio, na Liberdade, pouco tempo depois fomos para um apartamento na rua Antonia de Queirós, travessa da rua da Consolação. Por causa do trabalho do meu marido voltamos para o interior, tínhamos já um filho, nos mudamos para um apartamento na minha cidade natal enquanto ele trabalhava na cidade vizinha. Com a chegada do segundo filho nos mudamos para uma casa, passado um tempo decidimos mudar de cidade para ficar perto do trabalho e fomos para uma casa num bairro residencial. Já tínhamos até então acumulado algumas coisas, poucos móveis e muitos objetos, livros, quadros. Naquela época tanto ele como eu íamos à São Paulo algumas vezes por semana por causa de estudos, com as duas crianças pequenas achamos mais seguro morarmos num apartamento e lá fomos para mais outra mudança.
Neste ponto - primeira metade dos anos 80 - acabou o meu primeiro casamento, mudei-me com os meninos para um apartamento menor.
Depois de uns anos casei e mudei! Fui morar em outra cidade do interior, numa casinha simpática, antiga, apertada para nós, que começamos já com a família grande, eu, com dois meninos, ele com uma menina, e logo fiquei grávida. E assim nossos quatro filhos cresceram nessa casa que foi se modificando ao longo dos anos, fiz algumas reformas e adaptações, foi a casa que mais tempo vivi depois de adulta. Mas o dia da mudança chegou contra nossa vontade, ali foi construído um prédio e a simpática rua de casinhas geminadas onde as crianças brincavam na calçada desapareceu. A outra casa era maior, meus sogros vieram morar conosco, ele estava doente e acabou falecendo nesta casa. Os três filhos mais velhos estudavam fora, vinham de vez em quando para nos ver, a casa foi ficando grande. Os dois filhos mais velhos mudaram-se para o exterior, casaram-se, o mais novo estava fazendo intercâmbio e nós nos mudamos para a ultima casa do segundo casamento.
Separei-me e fui morar num apartamento muito agradável com meu filho caçula, o outro já estava morando sozinho no seu apartamento. Depois de um ano fui com minha mudança para São Paulo, morar no apartamento que meu irmão emprestou. A esta altura muitas coisas já tinham ficado pelo caminho, já tinham sido distribuídas. Como meus filhos moraram em repúblicas, lá se foram alguns móveis, objetos, utensílios.
Quando voltei para morar em São Paulo minhas coisas estavam reduzidas, mas ainda eram muitas coisas. Em menos de um ano morei em três lugares diferentes até que fui para a Bahia e lá passei um ano. Voltando fiquei uns meses na casa de um amigo até que fui morar com um filho. Fiquei um ano nesse endereço e voltei para São Paulo, aí já no meu terceiro casamento. Um tempo depois nos mudamos para Salvador da Bahia, e aqui estou abaianada, adorando viver na frente do mar uma vida simples e em paz.
Minha mãe que costuma brincar, diz que eu sou especialista em mudanças.
Contaram em quantas casas eu já vivi? E isso sem contar o tempo que passei em Aracaju. Pois bem, são vinte e duas residências onde fiz a minha história até agora. Minhas coisas atualmente são poucas mesmo, não tenho mais cristais e porcelanas, nem toalhas de linho, são poucos móveis, aqui a nossa vida acontece mais na varanda. Quero viver simplesmente, rodeada de coisas essenciais para o mínimo conforto e prazer, não quero nada que me tire a liberdade, quero um lugar prático e aconchegante, onde eu possa viver a minha paz. E é assim que vivemos.
Um dia a gente assume que é 'perfeitamente imperfeita'. Passei anos para descobrir o jeito que gosto de viver e faz pouco tempo que descobri qual é. Foi um longo caminho aprendendo com perdas e ganhos, tentativas e erros. 
A gente imagina uma vida linear, tem sonhos, faz planos e, de repente é surpreendido, de uma hora para outra é preciso rever conceitos, ajeitar as coisas, fazer o melhor para sobreviver, e não apenas isso, mas tentar viver melhor. Tenho flexibilidade suficiente para dar um jeito e seguir em frente, fui descobrindo isso à medida que foi necessário, nada como a necessidade para aparecer criatividade. Sou daquelas pessoas que fazem do limão uma limonada, e ainda bem caprichada.
Quando jovens não temos ainda idéia do quanto somos capazes, depois de viver bastante, olhando para trás, até nos espantamos com tudo que fizemos. Quando paro para relembrar minha vida fico satisfeita por ter sido como fui, por ter feito as coisas que fiz, de nada me arrependo, tudo foi para que eu seja essa mulher que sou agora, cheia de energia para tocar em frente, sempre inovando, me recriando.
Parafraseando Cecília Meireles, "sou como as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira", essa forte planta, que tenho aqui no meu jardim é uma inspiração, a observo diariamente e noto como é valente, mesmo sendo uma árvore antiga, velhinha, que já existia aqui na casa quando nos mudamos, ela refloresce sempre vibrante, exuberante.
Nasci numa cidade do interior de São Paulo, morar na praia era algo muito remoto, não fazia parte dos meus planos até alguns anos, era um sonho apenas, no entanto cá estou vivendo em frente ao mar, e não um mar qualquer, mas o mar da Bahia, esse imenso mar que aqui parece ser maior que em qualquer outro lugar. Isso possibilitou uma grande mudança em mim, fui encontrando meu estilo, simplicidade com a natureza ao meu redor. Meu luxo é abrir a janela do quarto todas as manhãs com passarinhos fazendo algazarra, dar bom dia aos três cachorros que se alegram ao me ver levantar, meu luxo é poder ler na rede, molhar os pés nas ondas, sentir o sol na pele. 
Ouvi uma amiga, que recebemos certa vez, falando ao telefone com o filho contando da viagem, disse: "a casa deles é uma casa de pescador ajeitada", gostei da definição, porque é como nos sentimos aqui, uma casa de veraneio, até me lembra algumas casas que íamos passar férias no litoral quando eu era pequena.
O fato de estar na Bahia já faz a gente se sentir diferente, como dizem aqui, a Bahia é um estado de espírito, e é mesmo, é o tipo de lugar que alguns amam e outros odeiam, eu sou da primeira turma, completamente apaixonada por Salvador, pela cidade, pelo mar, pelas pessoas, o baiano é alegre e receptivo, me sinto muitíssimo bem vivendo neste lugar. Sou uma paulista abaianada, perfeitamente imperfeita, em paz e feliz.

“É necessário encarar o medo e a dor da mudança mesmo que esta pareça uma desobediência, uma transgressão; sem mudança não há evolução.” (recebi esta frase há alguns anos da saudosa amiga Cláudia Gaspar, que se mudou desse mundo recentemente)

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hoje desmontei a árvore de Natal e os enfeites já estão devidamente guardadinhos
acho triste o dia de desmontar a árvore...

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9 comentários:

Taia Assunção disse...

Plenitude, essa é a sensação que você me passa. Sempre me sinto bem quando a visito. Deus abençoe sua família e especialmente seus três netos. Que 2011 seja um ano especialmente bom. Amamos a Bahia e num futuro não muito distante pretendemos nos mudar de mala e cuia. Por enquanto vamos levando essa vida maluca até os filhos se formarem e começarem a caminhar com as próprias pernas. Beijocas!

Anônimo disse...

OI!Conheci teu blog a poucos dias estou adorando.Sou do Parana (meu PC ta sem acentos) e adoro seu jeito de escrever, vou voltar muitas vezes.
Beijos Marlene

Susi disse...

Ju, que lindo o post. Precisa ler algo assim. Td bem por ai? Nina como vai? Tai ainda? Aqui td bem, frio de morrer, e uma gripe devidamente instalada. To de molho esses dias.
bjs e bom final de domingo.

sissi disse...

sempre passo por aqui gosto muito do seu jeito de escrever! eu já mudei muitas vezes por questão de trabalho e já estou na fase de carregar o minimo possível! um abraço e abençoado 2011. sissi

Beatriz disse...

Não me mudei nem casei tantas vezes. Não tive tantos filhos. Sou do Rio, moro em Curitiba e estou me mudando para Salvador.

Não aprendi a viver sem o mar. A mudança para Salvador já era uma decisão e o seu blog me estimula ainda mais a ir morar frente à Baía de Todos os Santos, o que já é metade da felicidade que se pode alcançar na vida. Acompanho O Móvel há muito tempo. Cheguei aqui agora. Acho que ao menos um dos santos todos dessa baía anda me puxando e empurrando para aí!

Beatriz disse...

Você foi rapidinha! Obrigada pela visita e pela lembrança da Lavagem do Bonfim no dia de hoje. Depois de morar em Curitiba estou precisando muuuuito de abraços abertos para me receber. Tenho vários amigos aí, já frequentei muito Salvador, onde sinto em casa.
Ainda vamos nos encontrar na praia de Piatã, com nossos daschs! E que seja breve!

Analice disse...

Eu adorei sua casinha... um abraço!!!

Van disse...

Oi Juju, tudo bem? Também sou paulista e estou morando na Bahia. Como você estou encantada. Faz 8 anos e ainda me encanto com o sol, o mar e a simplicidade daqui.

Felicidades a todos nós.

Bjs.

Gratissima disse...

Ai que texto mais lindo!
Viajei com você nessas mudanças todas... rs...
Vim prá São Paulo com 7 meses... e morei até os 30 anos na mesma casa... de onde me mudei para um apartamento quando casei... e lá estou há 8 anos.
Me identifico bastante com o início do seu texto, falando da quantidade de coisas que entulhamos em casa...
É um tal de guardar caixinha, fitinha, potinho... affe...
Em casa somos somente eu e meu filho e 3,5 anos... mas acredite... junto muita tralha... Vira e mexe estou fazendo uns limpas... rsss...
beijinhos,
Gratíssima